1. Ideologia do Mérito
É provável que uma grande
parte da sociedade tenha essa concepção sobre justiça. Ela se baseia no sistema
econômico e seus princípios, onde o homem é o que tem e na posição que ocupa
diante da sociedade. Podemos chama-la de ideologia capitalista do mérito, pois
visa dar a cada indivíduo seus direitos e deveres de acordo com sua posição
social e o quanto ela contribui financeiramente no crescimento de sua cidade,
estado e país. Nesta concepção, um grande empresário deve ter grandes
rendimentos financeiros e um agricultor ter seu soldo menor devido à sua
posição e escolaridade. Um político com seus salários altíssimos e seus
privilégios, vale mais que um gari, que de certo modo se esforça muito mais e
trabalha de maneira digna pra ter o que comer e sustentar sua família. Nesta
ideologia, um mendigo não teria valor algum para a sociedade, pois não produz
riqueza para sua cidade.
Este
padrão de justiça é bem aceito pela sociedade secular, o que torna o desafio da
igreja ainda maior, pois além de ensinar um padrão diferente, ela ainda precisa
combater a entrada dessa ideologia dentro dela mesma. É necessário observar
como estamos tratando todas as pessoas em nossas igrejas. Se de alguma forma
privilegiamos os que têm condições sociais melhores e desprezamos os menos
abastados.
Um
exemplo de que esta ideologia pode entrar na igreja e afastar os cristãos do
que Cristo instituiu para ela é o que aconteceu na igreja do primeiro século de
nossa era, que levou Tiago, discípulo e meio irmão de Jesus, a exortar a igreja
sobre tal prática. No texto da carta de Tiago no capítulo 2 e verso de 1 a 13,
verificamos que a igreja privilegiava os ricos com seus trajes luxuosos,
fazendo-os sentar nos melhores lugares, enquanto que os pobres ficavam em pé ou
nos últimos lugares. Tal prática denuncia um falso sistema de valores (v. 3),
desonra a quem Deus honra (v. 5), favorecem os que oprimem os cristãos (v. 6),
é pecado (v. 9) e quem tal coisa pratica sofrerá o juízo divino (v. 12 e 13).
2 Ideologia da Consciência Tranquila
Esta ideologia consiste em
agir de acordo com sua própria consciência. Ou seja, as atitudes de alguém
devem ser pautadas no sentimento de tranquilidade vindo de sua própria mente.
Se numa determinada situação a mente está em paz, é sinal que a atitude foi
justa, se não traz paz, é sinal de injustiça.
Esta
ideologia que parece correta é um grande perigo na vida cristã, pois a
consciência humana não é uma fonte segura para ser base da justiça, tendo em
vista que pessoas possuem formações diferentes, valores e princípios diferentes
e até mesmo grau de sanidade diferentes. Se todas as pessoas tivessem uma boa
consciência, sanidade mental e não sofressem variações de humor, ela seria
perfeita. Mas como isso é impossível, ela não deve ser o padrão cristão de
justiça social.
O que podemos esperar de
justo numa consciência contaminada pelo pecado? Ou de uma consciência
endurecida, cauterizada pelo sofrimento e traumas? Há ainda pessoas de
consciência fraca, que se deixam levar por toda e qualquer opinião alheia.
Pessoas imaturas e sensíveis, influenciadas por suas emoções cometeriam grandes
injustiças tomando como base sua consciência. A consciência humana não é uma
fonte segura de justiça.
3 Ideologia Farisaica
No judaísmo se aplicava a “justiça
própria”. Que consistia no desenvolvimento de uma ética padrão pessoal ao ponto
que este indivíduo alcançasse a sua salvação. “O judeu deveria viver conforme a Torah (lei), somado ao
desenvolvimento de seu ativo do ‘Yêser hattob’ (impulso bom), e refrear o seu
‘Yeser Hara’ (impulso mau), para obter um padrão e julgar sua justiça própria” (MCCELLAND,
1990, p. 385).
O
evangelho de Mateus, no capítulo 23, faz algumas críticas a respeito da justiça
dos fariseus, destacando suas características como algo reprovável diante
daquilo que Cristo havia ensinado aos seus discípulos. Vejamos quais são.
Primeiramente
ele fala que os fariseus impõem regras aos outros e não as cumpre (v.4). Era
fácil esta tarefa de criar leis, pois eles mesmos não tinham o dever de
cumpri-las, pois se achavam acima da lei e da justiça.
Em
segundo lugar, os fariseus se achavam superiores a todas as pessoas (vs. 6 e
7). Consideravam-se dignos de honra, com maior espiritualidade e no direito de
julgar as pessoas e condená-las por suas faltas. Acreditavam que eram juízes
irrepreensíveis.
Uma
terceira característica é o uso da posição religiosa e social para se
beneficiarem (v. 14). Neste contexto, os fariseus usavam a posição religiosa
para tomares os bens das viúvas para si. Usar sua posição para obter vantagens
próprias é uma atitude farisaica.
A
quarta característica, é o proselitismo (v.15). Uma das ênfases do farisaísmo é
agregar um grande número de adeptos, mudando seus pensamentos para apoiar sua
religião e ideologias de justiça. Quanto maior o apoio, menor a oposição às
suas práticas.
A
quinta característica está no apego aos bens materiais (v. 16). Um “bom
fariseu” é devidamente reconhecido pela sua avareza. Pois a riqueza tem papel
fundamental na posição que ele pode exercer na sociedade e na influência sobre
os demais. Segundo esse pensamento, os bens materiais influenciam a vida sobre
coisas espirituais.
Enfatizam
as tradições dos homens, esta é a sexta característica do farisaísmo (v. 23).
Normalmente as tradições exigem dos homens uma prática religiosa de aparência e
de publicidade. Com isso, o prazer do fariseu em cumpri-las é visível, pois
essa atitude resultará na fama de um religioso praticante e piedoso.
Por
fim, chegamos à sétima característica. Preocupam-se com o exterior e desprezam
as virtudes (v. 25). Para eles o que importa é a aparência, a maneira de se
vestir e se apresentar perante os homens. Era uma religião para os ricos de sua
época.
Este
tipo de justiça tão cobiçada pelos fariseus, é exatamente a que Jesus rejeita,
condena e abomina, contrastando com a justiça do Reino de Deus: “se a vossa justiça não exceder em muito a
dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no Reino de Deus” (Mateus
5:20).
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